sexta-feira, 2 de julho de 2010

Travessia Vila Franca de Xira - Vila Velha de Ródão. O relato.

Esta travessia já era para ser feita o ano passado. Mas na altura não foi possível e fomos este ano. Quero agradecer Ricky Rock pelo track e pelas dicas sobre o local de alojamento e jantar.

Começámos, cedinho, em Vila Franca de Xira. Tivemos a companhia de dois amigos com quem já não pedalávamos há algum (muito) tempo: o Jaime e a Carla. Parece que o nosso convite (público) foi irresistível. Ainda bem que vieram, sem a vossa presença não teria tido a mesma graça.

O início da nossa travessia foi pelo meio dos campos de cultivo das Lezírias. Sempre ouvi dizer que não dava para passar, que havia muitos portões fechados e não sei o quê mais. Pois, na realidade havia portões. Uns fechados, mas dava para contornas, outros abertos. Encontrámos um fechado a cadeado, com mais de dois metros de altura e impossível de contornar. As nossas meninas (Tânia e Carla), passaram no teste de escalada. Tiraram os sapatos passaram o portão sem dificuldade. A Tânia ainda se queixou com dores nos dedos dos pés. Nada de grave, pouco depois tivemos uma primeira amostra de trilhos junto do canal e logo de seguida entrámos no jardim ribeirinho de Benavente.



Paragem obrigatória para algumas fotos e abastecimento. Podia não parecer mas 20 quilómetros já estavam. Só faltavam 100 até Ponte de Sôr.

No quilómetros seguintes tirei poucas fotos. Já tenho muitas lá por casa. É o nosso velho conhecido trilho do canal.



A próxima paragem foi, 30 quilómetros depois, em Coruche. Aproveitámos e ocupámos um esplanada deserta que por lá estava. O calor já mostrava um ar da sua graça e aproveitámos para nos refrescarmos com Coca-Cola e mais qualquer coisa. Já não me lembro bem, talvez também um café. Ah, e um néctar que transportava na mochila. Sabe bem duas vezes: é saboroso e tira peso das costas.

A partir daqui já não conhecia nada, logo, foi desde aqui que a volta começou a ser engraçada: pelas novas paisagens e pela experiência de navegação via GPS, ajudado pela Tânia e pelo Jaime. Acho que não nos perdemos...



O calor também não se perdeu de nós. Cada vez mais perto de nós. Mas nós conseguíamos vencê-lo aproveitando a água libertada pelos sistemas de rega de milho. Nesses locais andávamos bem devagarinho para sermos apanhados pelo "chuveiro" rotativo. Por vezes parávamos e apanhávamos chuveirada três ou quatro vezes. Sabia mesmo bem!



Esta era a única forma de nos refrescarmos, há vários quilómetros que não víamos uma povoação. Quando um ex-Ministro dizia que a margem-sul era um deserto, eh pá, acreditem. Felizmente, tivemos de atravessar o rio Sorraia e o caudal que a barragem de Montargil deixava passar seria,certamente, superior ao caudal ecológico. Óptima oportunidade para um quase banho e tirar a areia dos sapatos.





Até ao almoço, logo após o paredão da barragem de Montargil, ainda fomos "a banhos" mais uma vez numa água gelada do canal.

Quanto ao almoço, não tivemos escolha. Era o único local possível num raio de 100 quilómetros. Não era mau, mas o local e as pessoas eram, no mínimo, estranhas...

Seguimos por estrada. Os "braços" da albufeira de Montargil não nos deixava experimentar outros trilhos. Até uma velha ponte estava submersa pela albufeira.



Quando foi possível voltámos aos trilhos. Quem nos costuma fazer companhia nas grandes aventuras é a chuva. E, hoje, parecia não ser excepção. O dia ficou, subitamente, escuro e pareceu-me sentir umas gotas de chuva a caírem-me em cima...



Em poucos segundos estávamos debaixo de um dilúvio. Felizmente encontrámos um telheiro de um café para nos abrigarmos.



Mal tínhamos entrado nesse telheiro, fomos logo "bem recebidos" pela dona do estabelecimento: "Não ponham aí as bicicletas muito tempo porque tenho reservas para essas mesas!". Isto dito num tom de vós que dá para imaginar, não? Ora, com isto, esta senhora acabou de poupar o trabalho de servir uma bebida a cada um de nós e, quem sabe, alguma coisa para petiscar. Pois acabámos por estar ali mais de uma hora à espera que parasse de chover.

Quando a trovoado foi fazer estragos para outro sitio, coloquei um saco de Pingo Doce a tapar o atrelado, tapámos as mochilas com os rain-cover e seguimos para Ponte de Sôr. Estávamos quase lá, a 5 minutos de distância. Esta trovoado teve uma pontaria...

Aqui estão as meninas todas contentes por termos chegado.



A nossa foto de grupo no final do primeiro dia:



O nosso "hotel" era mesmo ali. O abastecimento para o dia seguinte (laranjas e bananas) é que estavam a uma hora de distância a pé (meia hora para cada lado). Pensei que fosse mais perto, ainda prolongámos a ida à estação da CP por razões que, agora, não interessam nada... E será que interessaram, acho que não...

Para ajudar à recuperação dos 120 quilómetros pedaládos ainda nos faltava mais uma hora a pé: afinal tínhamos de ir almoçar ao recomendado restaurante "O Padeiro". Magnífico jantar, ou mesmo divinal.



Depois de um dia muito cansativo, pouco tempo depois já estávamos a dormir. No dia seguinte iríamos acordar cedo para evitar as horas de maior calor.

No domingo, começámos a pedalar às 7 da manhã. Apanhámos uma subida com alguma areia e depois uma descida para fazer desmontado. Logo depois entrámos na estrada que vem de Ponte de Sôr... Hmm, podíamos ter vindo por estrada! Mas não era a mesma coisa...

Logo depois ficaram uma grandes fotos por tirar! Passámos por uma ponte metálica, muito estreita, que me parecia estar suspensa... Medo! Grandes fotos ficaram por tirar, mas nem me lembrei disso. Limitei-me a seguir o Jaime e ver se as chapas metálicas não se levantavam.

Essa ponte ir a dar a outra bem mais sólida:



Alguns trilhos ainda estavam húmidos do orvalho. Mesmo assim, muitas lebres se afastavam à nossa passagem. Os cães, e foram muitos, é que tinham uma fixação por nós. Sempre que nos viam desatavam a correr a trás de nós. Mas nós temos ido aos treinos. Esta travessia foi boa para o treino de séries...

As nossas mochilas iam cheias com as nossas comprinhas no Modelo. Fizemos várias paragens para as ir esvaziando de bananas e laranjas. A Tânia foi dizer que cá em casa que descasca laranjas sou eu e então fartei-me de trabalhar... Para além de pedalar, também tinha de descascar laranjas para quatro pessoas.



Os trilhos estavam cada vez melhores. Tínhamos abandonado as zonas planas, agora já havia subidas e algumas descidas. O dia estava a correr bem, estávamos dentro do horário estipulado e por isso qualquer momento era um momento Kodak.





Mais momentos Kodak:





A certa altura, uma senhora avisou-nos que a descida estava muito má. Ora, se a minha mãe me ensinou que más são as cobras, e são mesmo, era melhor ir com cuidado. A descida era mesmo complicada se a fizéssemos sem cuidado, os declives nesta zona eram abruptos.

Quando pensávamos que já tínhamos subido tudo, o GPS manda-nos para uma subida que só de olhar já ficámos assustados. Tirámos zoom ao GPS e o susto foi ainda maior: falta subir umas quantas curvas de nível... A Tânia ajudava, com a sua estação meteorológica, a dizer que estavam quase 40 graus. A maior parte foi feita à mão...

Já no topo, passam por nós um grupo de pessoal a praticar todo o terreno (de jipe) que nos olharam como verdadeiros heróis. Um dos senhores que simpaticamente falou connosco, morava em Vila Velha de Ródão (era já ali) e só tinha feito aquela subida uma vez...



Costuma-se dizer que "depois da tempestade... vem a bonança". Neste caso, "bonança" significa descer, e muito, e no final ter uma vista fantástica para as Portas de Ródão.






Estávamos mesmo no final da nossa travessia. Tentámos encontrar um sítio para comer alguma coisa, mas em Vila Velha do Ródão não há pão ao domingo! Gelados, também foi difícil encontrar. Só à terceira.



O regresso a casa foi de comboio. Regional, mas muito confortável e com ar condicionado.





Os nossos companheiros ficaram em Vila Franca de Xira. Nós seguimos até Alverca e daí até casa a pedalar...



Adorámos este fim-de-semana. Esperemos que seja possível organizar mais uns quantos...

NOTA: tenho um álbum com 430 fotografias. Precisa de um selecção, brevemente colocarei aqui.

2 comentários:

Jaime Beato disse...

Boas... finalmente!!!

Aparentemente ganhei a corrida de escrever o relato desta viagem.
Definitivamente foi uma odisseia boa de se fazer e se possivel voltar a repetir, mas, por outros lados.
Já agora... volta a ler e corrige as tuas alucinações em relação às horas da refeição... deve ter sido do calor.
Abraços,

Jaime Beato

Amilcar disse...

Boas,

Adorei a vossa cronica.
sera possivel enviarem-me o track?